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terça-feira, 15 de março de 2005

Reflita!

Enigmas do apê
Eu que me gabava de nunca ter ouvido a tal “Egüinha Pocotó”. Eu que me orgulhava de jamais ter escutado uma canção de Tati Quebra-Barraco. Eu que nem sei como é a voz da Maria Rita e não conheço uma música sequer dos Tribalistas. Eu que passei (quase) incólume a todos os hits de verão de Salvador, ao fenômeno Kelly Key e à febre do “Tô Nem Aí”. Sim, é um vexame afirmar isso, mas... eu costumo cantarolar “Festa no Apê”, composição tosca do não menos tosco cantor Latino, quando ninguém está olhando. Como isso foi acontecer, minha santa Izildinha?

Se não costumo ligar o rádio (e nenhuma das minhas sintonias favoritas executariam a tal) e não costumo ligar a TV em dominicais brasileiros (e, da última vez em que eu assisti ao programa do Gugu, ele ainda premiava os convidados com um troféu de néon), me explica como foi que a maldita chegou até mim e me pegou de tal maneira que eu já consegui até decorar toda a letra? Vai ver, fui chipada por um ET sádico enquanto dormia. Também, quem mandou visitar Varginha procurando pêlo em ovo? Ou alien em terreno baldio? Agora tome “Festa no Apê” tocando dentro do cérebro durante toda a eternidade.

Pois esse não é o único mistério que sonda a música. Tratemos então de chamar o padre Quevedo ou qualquer outro estudioso em paranormalidade para dar uma explicação racional sobre...

... quem é que fala “apê” nos dias de hoje?
Realmente acredito que o Latino é a única pessoa que acha descolado e moderno referir-se a um apartamento como “apê”. Do mesmo jeito que o Silvio Santos acha bacana dizer “televisor” ao invés de televisão, manja? Tudo bem, há a desculpa da palavra soar como a usada na canção original – uma vez que a versão foi feita inteiramente baseada em fonemas. Mais adiante na letra, porém, ele cita “drink” e “birita”! Pô, Latino, você precisa cair na “balada”, mano! Sai desse “apê”, vai tomar umas “cerva” com a galera da “facu” lá de “Floripa” pras “mina” te ensinarem umas gíria mais esperta! Ó, o cara, aí! Mó vacilão!

... o que diabos é “bundalelê”?
Na minha cabecinha escolar, “bundalelê” é uma prática de alunos de 5ª série em dia de excursão ao Playcenter. Quando o ônibus que leva os pestes pára no semáforo, o mais saidinho da turma chama o motorista do carro ao lado e, quando este vira para olhar, o moleque abaixa as calças e esfrega a bunda no vidro. Agora eu imagino o monte de convidados do Latino tendo a mesma atitude em uma festa. Com toda aquela libido no ambiente, como a letra sugere, por que eles estão se portando como garotinhos? Só falta queimar barbante e desenhar figuras fálicas com compasso na porta do banheiro!

... quem recebe as visitas daquele jeito?
Imagine você, leitor ou leitora, tocando a campainha de uma residência aparentemente normal. Quando a porta se abre, lá está um rapaz de 2 metros de altura, mais magro que talharim escorrido na água, com um bigodinho de gigolô de gafieira e vestimentas à la rapper de shopping center. Ele diz, com voz sexy, “Olá, prazer/ A noite... hum... é nossa”. Não sei qual seria a sua reação, mas eu sairia correndo três dias e três noites sem olhar para trás! Isso é jeito de receber visitas? Só espero que na porta do apê do Latino tenha olho mágico. Já pensou atender o entregador de pizza dessa maneira pimposa?

... quanto o garçom cobrou para servir uma festa desse calibre?
Repare que no meio da baderna existe um pobre serviçal tentando apenas ganhar o leite das crianças de maneira digna. Ele podia estar matando, podia estar roubando... Mas não: está apenas servindo “drinks” às visitas. O coitadinho aceitou o bico pois achou que levaria uma gorjeta mais gorda do cliente famoso, mas logo viu que dinheiro algum valeria o esforço – e passou o evento inteiro pensando “Por que eu não fui fazer o baile de debutantes lá no Vigário Geral?”. Proponho uma campanha de apoio “Eu Tenho Dó do Garçom do Latino”.

... qual é a função específica do proprietário?
Ainda não entendi o que o Latino faz especificamente dentro de sua festa. O cara dá uma de anfitrião, recebendo as visitas com aquele jeitinho todo especial de ser, supervisionando o trabalho do garçom e dizendo frases inéditas como “A noite é uma criança”. Supimpa! Mas vem cá... Se existe tanta sedução no ar, se o rapaz é o pegador que ele diz que é, e se no quarto dele tem gente até fazendo orgia, o que o mameluco está esperando para cair na gandaia também? Latino, você está mais para Mirtes do que para Don Juan, hein!

... cadê o síndico daquela pocilga?
Se a festinha íntima do casal acima do meu apartamento já produz ruídos constrangedores suficientes para atrapalhar qualquer tentativa de janta em família, só me resta indagar a respeito do barulho que os infelizes moradores do edifício em questão precisam aturar até altas horas da manhã. Pior seria se a ilustre pessoa começasse a cantar seus maiores sucessos para embalar os convidados, como “Você já foi mais humilde” e “Oh baby me leva”. Eu só queria participar de uma reunião de condomínio com os vizinhos do Latino, viu! Ia votar nele para síndico.

Autor: Vivi Griswold - Texto retirado do site www.garotasquedizemni.com.br

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